A Arte e o Excesso

A década de 70 foi a era da grandiosidade no rock. Com o sucesso comercial do gênero atingindo níveis estratosféricos, as bandas ganharam liberdade criativa e orçamentos quase ilimitados. Essa liberdade se manifestou de duas maneiras espetaculares e opostas: uma voltada para a complexidade musical e intelectual, o Rock Progressivo; e outra voltada para a teatralidade, a moda e a celebração da ambiguidade, o Glam Rock. Ambas levaram o rock a novos picos de arte e excesso.

Rock Progressivo: A Sinfonia Elétrica

O Rock Progressivo (ou Prog Rock) nasceu da ambição de elevar o rock ao status de "arte erudita". Músicos com formação clássica e de jazz começaram a fundir a energia do rock com a complexidade da música clássica e a liberdade de improvisação do jazz. As canções curtas de 3 minutos foram substituídas por suítes épicas de 20 minutos, com múltiplas seções, mudanças de compasso e temas conceituais que exploravam ficção científica, mitologia e filosofia.

Bandas como Yes criavam paisagens sonoras complexas com a guitarra virtuosa de Steve Howe e os vocais etéreos de Jon Anderson. O Genesis, com Peter Gabriel, desenvolvia narrativas teatrais complexas. Mas talvez nenhuma banda tenha capturado a imaginação do público como o Pink Floyd. Com álbuns conceituais como The Dark Side of the Moon e The Wall, eles usaram o estúdio para criar experiências sonoras imersivas que exploravam temas como loucura, tempo e alienação, tornando-se uma das bandas mais bem-sucedidas e influentes de todos os tempos.

A icônica capa do álbum 'The Dark Side of the Moon' do Pink Floyd, mostrando um prisma decompondo a luz

A capa de "The Dark Side of the Moon" do Pink Floyd, um símbolo da ambição conceitual e da sofisticação sonora do rock progressivo.

Glam Rock: O Brilho e a Androginia

Enquanto o Prog Rock exercitava a mente, o Glam Rock celebrava os olhos e o corpo. Foi uma reação colorida e extravagante à seriedade "machista" do hard rock e à intelectualidade do progressivo. O Glam Rock era sobre diversão, moda, sexualidade e espetáculo. Os artistas usavam maquiagem pesada, roupas brilhantes, botas de plataforma e adotavam uma postura andrógina que desafiava as normas de gênero.

David Bowie foi o camaleão mestre do Glam. Ele criou personas como o alienígena messiânico Ziggy Stardust, fundindo rock, teatro e ficção científica em uma performance de arte total. Sua música era tão inovadora quanto seu visual, explorando temas de fama e alienação. Outra força dominante foi o Queen. Embora sua música abrangesse muitos estilos, sua abordagem teatral, liderada pela presença de palco magnética e pela voz operística de Freddie Mercury, os colocou firmemente no panteão do glam. Canções como "Bohemian Rhapsody" eram mini-óperas que desafiavam qualquer categorização, combinando balada, rock pesado e ópera em uma obra-prima de excesso glorioso.

David Bowie como sua persona Ziggy Stardust, com seu cabelo vermelho icônico e traje espacial

David Bowie como Ziggy Stardust, a personificação máxima do glam rock, com sua fusão de música, moda e teatro.

O Ponto de Saturação

No meio da década de 70, tanto o Rock Progressivo quanto o Glam Rock atingiram um ponto de saturação. Os épicos do Prog eram vistos por alguns como pretensiosos e autoindulgentes, enquanto o brilho do Glam parecia superficial para outros. O rock havia se tornado grandioso, complexo e distante da realidade da juventude nas ruas.

Essa percepção de excesso e artificialidade criou um vácuo. Uma nova geração de jovens, sentindo que o rock dos estádios não falava mais com eles, estava pronta para uma nova revolução. Eles pegariam suas guitarras, simplificariam tudo ao máximo e trariam o rock de volta à sua energia crua e urgente. A rebelião de três acordes estava prestes a começar.

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