Os Hinos dos Impérios: Música na Mesopotâmia e no Egito Antigo

"Na Mesopotâmia, a música tornou-se uma arte sofisticada. Músicos da corte, tocando liras e harpas, não só entretinham a elite, mas também participavam de uma revolução cultural: o registro da música em tábuas cuneiformes, a mais antiga notação musical da história."

Após explorarmos os sons primitivos da pré-história, nossa viagem pela história da música nos leva aos férteis vales dos rios Tigre, Eufrates e Nilo. Nas civilizações da Mesopotâmia e do Egito Antigo, a música evoluiu de uma ferramenta de sobrevivência para uma arte sofisticada, profundamente entrelaçada com o poder, a religião e a vida cotidiana dos primeiros grandes impérios da humanidade.

Mesopotâmia: Onde a Música Encontrou a Escrita

Na Mesopotâmia, conhecida como o "berço da civilização", a música era uma arte reverenciada, presente tanto nos grandiosos templos (zigurates) quanto nas cortes reais. Os sumérios, babilônios e assírios desenvolveram uma rica cultura musical que servia para honrar os deuses, celebrar vitórias militares e entreter a elite.

Uma das contribuições mais fascinantes da Mesopotâmia foi a tentativa de registrar a música. Arqueólogos descobriram tábuas de argila cuneiformes datadas de aproximadamente 1400 a.C. na antiga cidade de Ugarit (atual Síria). Essas tábuas contêm o que é considerado o mais antigo exemplo de notação musical conhecido: o Hino Hurrita nº 6, uma ode à deusa Nikkal. Embora a decifração exata ainda seja debatida, as instruções parecem indicar intervalos e afinações para uma lira de nove cordas.

Os instrumentos mesopotâmicos tornaram-se mais complexos e variados:

  • Liras e Harpas: Frequentemente adornadas com ouro e pedras preciosas, como as famosas Liras de Ur, encontradas em tumbas reais. Eram o símbolo da música erudita.
  • Alaúdes: Precursores do violão e de muitos instrumentos de corda modernos, com um braço que permitia a criação de diferentes notas.
  • Flautas e Oboés Duplos: Instrumentos de sopro que desempenhavam um papel central em cerimônias religiosas e festivais.
  • Instrumentos de Percussão: Tambores, címbalos e sistros eram usados para marcar o ritmo em procissões e danças.
"A música na Mesopotâmia não era apenas entretenimento; era uma tecnologia para se comunicar com o divino e organizar o poder terreno."

Egito Antigo: A Trilha Sonora para a Eternidade

No Egito, a música era considerada um presente dos deuses, especialmente de Hátor, a deusa do amor, da beleza e da música. Ela era onipresente: nos campos, os trabalhadores cantavam para marcar o ritmo do trabalho; nos banquetes, músicos e dançarinos entretinham os convidados; e, nos templos, a música era essencial para os rituais que garantiam a ordem cósmica (Ma'at).

A música egípcia estava profundamente ligada à vida e, mais importante, à morte. Pinturas em tumbas retratam com detalhes impressionantes cenas de músicos tocando em cerimônias fúnebres, acreditando que os sons corretos poderiam guiar a alma do falecido na perigosa jornada pelo submundo.

Os egípcios praticavam a quironomia, um sistema de gestos com as mãos feitos por um líder de conjunto para indicar a melodia e o ritmo aos outros músicos, funcionando como uma espécie de regência primitiva. Seus instrumentos eram semelhantes aos da Mesopotâmia, mas com características próprias:

  • Harpas Arqueadas: De diversos tamanhos, desde portáteis até grandes harpas de chão, eram o instrumento de maior prestígio.
  • Sistro: Um chocalho sagrado, geralmente tocado por sacerdotisas, associado à deusa Hátor e usado para afastar maus espíritos.
  • Flautas e Clarinetes Duplos: Essenciais em procissões e rituais.
  • Trombetas Militares: Como as duas encontradas na tumba de Tutancâmon, feitas de prata e cobre, usadas para fins militares e cerimoniais.

O Legado dos Primeiros Impérios

Tanto na Mesopotâmia quanto no Egito, a música deixou de ser puramente funcional para se tornar uma forma de arte estruturada e uma profissão respeitada. Músicos eram empregados por templos e palácios, e o conhecimento musical era transmitido de mestre para aprendiz. Essas civilizações estabeleceram as bases para a teoria musical que seria mais tarde desenvolvida pelos gregos, criando instrumentos que são os ancestrais diretos de muitos que tocamos hoje.

Ao estudar os hinos e as representações musicais desses impérios, ouvimos os ecos de um mundo onde a música era a ponte entre o céu e a terra, o poder e o povo, a vida e a eternidade.

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